Por Elizangela Jubanski e Antônio Nascimento
Alunos e professores da Safel estiveram no velório e fizeram homenagens ao garoto. Foto: AN/Banda B
“Eu só escutei que eu tinha um filho de ouro. De todas as pessoas que
vieram aqui, todas elas me disseram que eu tinha um filho de ouro”.
Essas foram as primeiras palavras da confeiteira Alexandra Nunes da
Rosa, 36 anos, mãe de Lucas Eduardo Araújo da Mota, 16, durante o
velório, que acontece no bairro Santa Felicidade, em Curitiba. O garoto
foi morto na tarde de segunda-feira (24) por um colega, de 17 anos, em
uma suposta briga dentro do Colégio Estadual Santa Felicidade (Safel). A
escola integra as cerca de 860 ocupadas no estado do Paraná em protesto
contra a Medida Provisória (MP) 746 que reforma o ensino médio.
Lucas não dormia na escola. Foto: Reprodução
“Perdi meu único filho. Ele sempre foi um menino tranquilo, nunca
tive nenhum problema com ele, obediente, eu conversava e ele me ouvia,
nunca brigou, era muito querido por todos. Tanto que a escola toda veio
aqui, os alunos fizeram homenagem pra ele, a escola está me ajudando com
o funeral. Não sei porque isso foi acontecer comigo, meu Deus”, disse
Alexandra, em entrevista à Banda B.
Bastante emocionada, a mãe relembrou que estava na igreja quando
recebeu uma ligação de uma professora da Safel. “A professora me disse
que ele precisava de mim e que não poderia esperar. Eu perguntei o que
tinha acontecido, se ele tinha caído, se machucado, e ela disse que sim.
Mas quando eu cheguei na escola, ela já estava toda isolada, a polícia
não me deixou ver ele, ninguém me falava nada, ninguém me deixava se
aproximar”.
O garoto tinha saído de casa por volta das 9h e o retorno dele estava
programado para pouco depois do almoço. “Ele sempre cumpria horários,
falava comigo o tempo todo, era muito companheiro”, disse a mãe. Depois
do crime, Alexandra foi até a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP), onde soube o que tinha acontecido, de fato, com o filho.
“Isso não tem explicação porque pra mim meu filho estava seguro
dentro da escola. É o lugar que você nunca vai pensar onde você vai
encontrar um filho morto. Teu filho vai para a rua, para a balada, para a
casa de amigos, ele pode ter atropelado, assaltado, mas dentro da
escola, isso nunca passa pela cabeça de uma mãe”, desabafa Alexandra.
Ocupação
Lucas não dormia na escola. Ele passava boa parte da manhã ou da
tarde auxiliando, segundo a mãe, nas tarefas divididas e de
responsabilidade dos alunos. “Ele não estava morando na escola, ele ia
até lá ajudar, limpar, fazer comida. Ele tinha me pedido pra ir dormir
lá, mas eu disse que dormir não. Ele ia e voltava, mas eu imagina que
teria alguém responsável o tempo todo cuidando deles”, conta.
Pelos corredores da escola há cartazes com os afazeres diários dos
alunos, inclusive, aulões com professores que iam até as escolas para
levar conteúdo de sala de aula. “Eu tinha ciência do que acontecia na
escola, eles limpavam, passavam o dia lá, estavam pintando, fazendo o
jardim, tinham algumas aulas. Só que não tinha ninguém maior à tarde
naquele dia. Eu cheguei lá de manhã e vi que estava ele, outras pessoas,
e perguntei onde estavam os pais, porque alguns ficavam ali, e ele me
disse que naquele dia eles estavam sozinhos. Meu marido perguntou para
ele ‘e para tomar alguma decisão, quem vem?’, ele disse que o pessoal do
conselho ia lá todos os dias, os professores. Eu não estou culpando a
escola, mas tinha que ter alguém maior para cuidar dele porque são
adolescentes, crianças, isso tinha que ser evitado”, acredita Alexandra.
Colega apreendido
A mãe de Lucas disse que o suspeito do crime não era amigo do filho. “Esse menino estudava à tarde e o
Lucas pela manhã. Ele passou a sair com esse menino há uma semana, mais
ou menos. Na primeira vez que eles saíram juntos eu liguei pra mãe dele
porque eu sempre fazia isso, ele me dizia onde estava e eu falava com a
mãe do amigo dele. Ele sempre me dizia onde estava e com quem estava”,
contou.
Alexandra manteve contato com a mãe do garoto logo após o crime, mas
depois alega que não recebeu nenhuma ligação dela. “Eu mandei um
whatsapp para ela quando eu cheguei na escola e ela me disse que estava
na delegacia com ele. Ela escreveu dizendo que não sabia onde tinha
errado. Depois disso, acho que ela me bloqueou. Liguei, não me atendeu.
Não me procurou, não me ligou, mas eu entendo a dor dela. Talvez seja
até maior que a minha, não sei. O futuro do filho dela é incerto. Eu
perdoo esse menino, quem sou eu para não perdoar esse menino? Me
disseram que ele estava transtornado, até sob efeito de entorpecente”.
A confeiteira defende que o filho não usava drogas e aguarda o laudo
da autópsia do corpo do filho para ter certeza. “Ele também não era de
briga, eu não sei o que pode ter acontecido naquele momento, talvez
nunca vou saber”, finalizou.
O sepultamento do corpo de Lucas está programado para acontecer às 15
horas no Cemitério Municipal de Mandirituba, na região metropolitana de
Curitiba.
BANDA B