Primeiro sobrevivente brasileiro da tragédia da Chapecoense a ter
alta, o lateral Alan Ruschel concedeu entrevista coletiva na manhã deste
sábado, após deixar o hospital na tarde de sexta, em Chapecó. Muito
emocionado, ele disse não lembrar do acidente, afirmou ser objeto de um
“milagre de Deus” e projetou seu retorno aos gramados daqui a seis
meses.
“Farei de tudo para voltar a jogar, com muita paciência. Mas farei de
tudo para dar alegria ao Plínio [David de Nes Filho, novo presidente do
clube], aos médicos, farei de tudo para dar alegria a esse pessoal
aqui”, afirmou Ruschel. “Eu calculei três meses para calcificar a
coluna, já passou um. Mais dois meses para fortalecer a musculatura.
Estou só na capa.”
A entrevista foi marcada por muitas lágrimas antes mesmo do início.
Emocionado, o sobrevivente do acidente aéreo que matou 71 pessoas
encarou como “milagre” o fato de estar vivo e de ainda poder andar.
“Um momento que caiu aquele avião Deus me pegou no colo e falou que
eu tinha mais missão aqui na Terra. Por isso ele não me levou. A única
explicação são dois milagres: eu estar vivo e o milagre de eu poder
estar andando. Os médicos falaram que foi uma lesão grave que eu tive na
coluna. Poder estar andando é milagre de Deus”, declarou.
Abalado pela tragédia, na qual perdeu 19 companheiros de time,
Ruschel disse conviver com uma “mistura de sentimentos”, em razão da
morte dos colegas e da alegria por ter sobrevivido.
“Não tem palavras para explicar o que estou sentindo. É uma mistura
de sentimentos, uma alegria grande por poder estar aqui de novo, sentado
aqui. Mas ao mesmo tempo é um luto por ter perdido muitos amigos”,
declarou, sem conter o choro. “Como eu postei foto esses dias, falando
que seguirei em frente, honrando os que foram morar com Deus. Honrarei
seus familiares que aqui ficaram, que hoje estão sentindo a dor.”
Quanto ao acidente, o lateral disse não ter lembranças da forte
batida contra um morro, a 30km de Medellín, na Colômbia, onde a equipe
da Chapecoense iria enfrentar o Atlético Nacional pelo jogo de ida da
final da Copa Sul-Americana.
“Eu lembro de sair de São Paulo, depois a gente estava chegando em
Santa Cruz de la Sierra. Depois lembro de estarmos saindo de lá. Não
lembro do voo, do acidente. O que eu lembro depois é da minha esposa
Marina falando no hospital”, afirmou.
Ele revelou que mudou de assento antes do início do voo e acabou
sentando próximo a Jackson Follmann, que também sobreviveu ao acidente.
“Quando a gente chegou em Santa Cruz de la Sierra a gente ia pegar o voo
fretado e o Cadu pediu para eu sentar um pouco mais para frente para
deixar os jornalistas sentarem no fundo. Na hora eu não quis sair dali.
Aí eu vi o Follmann e, por olhar para ele, ele insistiu para eu sentar
com ele, aí eu saí de lá de trás e fui sentar com o Follmann. É uma
parte que eu lembro”, declarou.
Por fim, Ruschel disse que encara o acidente como uma grande lição de
vida. “Estava indo para um jogo e simplesmente você não sabe se vai
voltar, não sabe o que vai acontecer daqui a dez minutos. O que eu levo
de lição é aproveitar a vida e fazer o bem. O que fizeram comigo durante
esses dias não tem explicação. O jeito que me trataram na Colômbia,
aqui no Brasil, o que os médicos fizeram por mim não tem explicação.”