Por Elizangela Jubanski e Paulo Sérgio Débski
A
situação dos corpos empilhados no Instituto Médico Legal (IML) de
Curitiba parece ter ganho um novo capítulo. Embora o sepultamento de 22
corpos tenha ocorrido em julho, a superlotação e a falta de estrutura
continuam causando transtorno aos servidores e familiares. No último
sábado, pais de um jovem morto na região metropolitana tiveram de
aguardar cerca de cinco horas em frente ao pátio do IML para concluir a
liberação do corpo do rapaz.
A quantidade de corpos e a falta de estrutura para armazenar afetam o
dia a dia na rotina dos trabalhos. Hoje, há 108 corpos sem
identificação e reclamação, ou seja, sem contato com as famílias, que
aguardam para serem enterrados. Desses, onze já estão aptos a serem
sepultados. Outros 60 aguardam tramitação judicial.
O presidente do Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná
(Sinpoapar), Leandro Cerqueira, afirma que a situação continua
crítica. “Temos dois problemas ali, o primeiro envolve a logística de
enterro dos corpos que não são reclamados pelas famílias, ou que não tem
identificação, em torno de 5% dos corpos que dão entrada, e isso aliado
a uma falta de estrutura porque o prédio e os equipamentos são da
década de 70, acabam não comportando o volume de perícias e de corpos”,
descreve.
Os corpos que se aglomeram no IML precisam ser enterrados no
município responsável pela perícia e necrópsia. “Na prática, como
Curitiba é responsável pelo atestado de óbito, acaba arcando com a
destinação de todos esses corpos, mesmo da região metropolitana. Até o
meio desse ano, tinham sido necropsiados dois mil corpos, 5% são os não
reclamados, cerca de cem corpos que ficam sob responsabilidade do
município realizar o sepultamento”, contou.
Na última mobilização, em julho deste ano, havia 140 corpos
aguardando destino final – 22 foram enterrados, após divulgação da Banda
B. O estopim foi o caso do corpo de um andarilho que passou três dias em uma unidade de saúde em Colombo, já que o IML afirmava que não haveria recolhimento por falta de espaço nas geladeiras.
Superlotação
O IML comporta 60 gavetas que armazenam os corpos em condições
ideais, e que deveriam servir apenas de maneira rotativa – aguardando
reclamação de familiares, liberações, reconhecimentos. No entanto, com o
aumento de corpos e a ausência de familiares para a retirada do corpo,
faltam espaços nas gavetas e muitos acabam sendo levados para a câmara
fria, conhecida entre os funcionários como, sala do horror.
“É uma sala refrigerada, como se fosse um freezer grande, que está
com a porta estragada. São cerca de 40 corpos que ficam ali e quando tem
que liberar algum, por exemplo, e se ele está no fundo, tem que mexer
em todos, colocar para fora da câmara, acha o corpo, coloca todos de
volta”, descreve. O espaço tem cerca de 4 m2 e abriga corpos em
prateleiras e até mesmo no chão.
A condição insalubre dos funcionários também é colocada em questão na
falta de estrutura, já que há líquidos que escorrem de dentro da
câmara, que causam forte odor e riscos de contaminação.
Novo
O novo prazo – já que as obras estão atrasadas há um ano – é que o
novo prédio do Instituto Médico-Legal (IML), que fica no bairro Tarumã,
será entregue no primeiro trimestre do ano que vem. O processo
licitatório dos equipamentos e mobiliários inicia somente com a entrega
do prédio.
Retorno
O governo do Estado rebate as ineficiências e alega que a permanência
de corpos no IML é decorrente da falta de locais para enterro, cuja
atribuição é do município, e da espera de decisões judiciais que
autorizem o sepultamento daqueles não reclamados. “Cabe ao IML o
trabalho de necropsia dos corpos, o que vem acontecendo de forma normal,
sem qualquer prejuízo ou atraso”, diz a nota, encaminhada à Banda B.
Já a Prefeitura de Curitiba afirmou que o departamento de serviços
especiais da Secretaria Municipal do Meio Ambiente possui autorização
para que seis, dos onze corpos, sejam sepultados ainda nesta semana em
cemitérios municipais. Os demais aguardam liberação judicial para que
sejam sepultados.
BANDA B..
Nenhum comentário:
Postar um comentário