Há
cinqüenta anos, quando se celebrou o Concílio Vaticano II, os leigos e
as leigas contavam muito pouco na Igreja. Para ilustrar este fato, Padre
José Oscar Beozzo, lembra que na primeira sessão do Concílio,
participou um único leigo, o filósofo Jean Guiton, porque era amigo do
Papa João XXIII. Mesmo assim foi colocado entre os observadores não
católicos, porque não tinha sido previsto um lugar para ele. No entanto,
durante o Concílio houve uma grande mudança. Nas sessões seguintes o
número foi crescendo. Na última sessão eram trinta e nove leigos e treze
leigas. Em plenário eram auditores, mas nas comissões eram locutores
com atuações freqüentes e pertinentes. Incidiram de modo especial na
redação do Decreto Apostolicam Actuositatem sobre os leigos e na
Constituição Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo. Foi assim que,
durante o Concílio, como lembra o Papa João Paulo II, nasceu uma
maravilhosa “teoria” sobre o laicato. Os leigos e as leigas deixaram de
ser fiéis de pertença menor, ou mero braço da hierarquia no mundo, e
passaram a ocupar o lugar que lhes pertencia, o de sujeitos eclesiais,
com pleno direito de exercer o sacerdócio, a profecia e o pastoreio.
A
teoria, no entanto, até certo ponto, permanece teoria. Por isso, o Papa
Francisco, em sua Exortação Evangelii Gaudium alerta que em alguns
lugares ainda perdura um excessivo clericalismo que mantém leigos e
leigas à margem das decisões, permitindo apenas que participem de alguns
ministérios dentro da Igreja sem um compromisso maior com a aplicação
do Evangelho na transformação da sociedade (102). O Papa lembra também
que as leigas, apesar de sua indispensável contribuição na ação
evangelizadora da Igreja, nem sempre têm o destaque que merecem. Na
opinião do Papa “é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina
mais incisiva na Igreja”.
Com
esta motivação os Bispos do Brasil, nas três últimas assembléias da
CNBB, têm refletido sobre a vocação e missão dos leigos e das leigas na
Igreja e na sociedade. No texto de estudo, que talvez na próxima
assembléia se torne um documento, ou seja, um texto normativo, os bispos
apresentam alguns indicativos de ações pastorais para que os leigos e
as leigas passem a ser de fato sujeitos eclesiais e não consumidores
passivos dos bens oferecidos pela hierarquia ou simples colaboradores do
clero.
1)
Conscientizar os cristãos leigos e leigas quanto a sua identidade,
vocação, espiritualidade e missão, incentivando-os a assumir seu
compromisso batismal no dia a dia, como testemunhas do Evangelho nas
realidades do mundo.
2)
Convocar os cristãos leigos e leigas, como membros efetivos da Igreja, a
participar consciente, ativa e frutuosamente dos processos de
planejamento, decisão e execução da vida eclesial e da ação pastoral por
meio de assembléias paroquiais, diocesanas, regionais e nacionais, e
dos conselhos pastorais, econômico-administrativos, missionários e
outros.
3)
Efetivar um processo de participação dos vários sujeitos eclesiais,
especialmente dos cristãos leigos e leigas no âmbito nacional,
contribuindo para a consciência e o testemunho de comunhão como Igreja.
4)
Abrir espaços de participação onde a presença feminina, com sua
sensibilidade, cuidado, intuição e outras capacidades peculiares,
enriqueça a comunidade eclesial nos seus processos decisórios.
5)
Incentivar e acompanhar a presença e a ação dos cristãos leigos e leigas
na participação social: grito dos excluídos, conselhos paritários de
direitos e de políticas públicas, sindicatos, processos políticos e
outros.
6)
Aprofundar a questão dos ministérios leigos, estimulando a criação de
novos. É importante lembrar que os ministérios e serviços não podem
desconectar os cristãos leigos da realidade e dos desafios da sociedade
nem clericalizá-los. O serviço da caridade, em suas diversas dimensões,
no âmbito da Igreja e da sociedade, comporta ministérios e serviços que
levam as pessoas à experiência da Igreja missionária e samaritana.
Postas
em prática estas indicações, com certeza, dentro de pouco tempo, a face
de nossa Igreja será bem diferente. Queira Deus que assim seja!
Aos
nossos leigos e leigas que, apesar de todos os compromissos familiares e
profissionais, ainda dedicam muito de seu tempo, como sujeitos
eclesiais, no anúncio do Evangelho e na implantação do Reino, a minha
gratidão, o meu abraço, juntamente com minhas preces e bênção.
Dom Manoel João Francisco
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio
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