Por Marina Sequinel e Flávia Barros
Uma nova norma do Corpo de Bombeiros causa polêmica no litoral do Paraná no início deste ano: agora, os salva-vidas são obrigados a usar bermudas durante o trabalho, no lugar da tradicional sunga. A
corporação alega que a medida tem como principal objetivo proteger
melhor os profissionais da exposição ao sol. A novidade, no entanto, não
agradou a União de Praças dos Bombeiros e da Polícia Militar do Paraná.
“Em nenhum momento os servidores foram ouvidos ou consultados sobre
essa mudança, que está causando vários problemas. Os bombeiros têm
assaduras e dificuldade para se deslocar na areia e também na água,
porque a bermuda não é apropriada. Isso é preocupante, porque os
salva-vidas precisam ser muito rápidos no atendimento”, disse Henry
Francis, presidente da União, em entrevista à Banda B.
Ele ainda criticou a alegação da administração de que a troca da
sunga por bermuda foi feita de acordo com um padrão internacional. “Nós
não temos motivo para ficar copiando outros lugares em relação ao
uniforme. Temos o nosso clima, as nossas praias. Não queremos que a
bermuda seja abolida, até porque alguns bombeiros preferem usá-la, mas
sim que a utilização seja facultativa”, completou o presidente.
Segundo ele, os servidores enfrentam outros obstáculos, que teriam
sido deixados de lado pela corporação. “Os óculos de sol para os
trabalhadores não chegaram a tempo, por atraso na licitação, e muitos
bombeiros estão na praia desde o início da temporada sem esse
equipamento. Além disso, a marca do protetor solar foi trocada e muitos
se queixam que o produto não funciona. Eu acho contraditório eles
exigirem o uso da bermuda para a proteção e ignorarem outros itens que
têm a mesma finalidade”.
Para melhorar as condições de trabalho, o presidente defende também a
restauração e instalação de postos para abrigar os salva-vidas nos
períodos mais intensos de sol ou tempestade. “A maioria dos abrigos das
praias está depredada e só agora alguns locais passaram por manutenção. O
turno dos funcionários é das 8h às 13h e das 13h às 20h, de segunda a
segunda. No dia seguinte, inverte, quem trabalhou pela manhã atende a
população à tarde. Ou seja, são muitas horas de exposição ao sol, sem
nenhum tipo de proteção fixa”, finalizou.
Sobre a troca do uniforme, o Corpo de Bombeiros se declarou por meio da seguinte nota:
O Corpo de Bombeiros informa que, do ponto de vista da segurança e
saúde ocupacional, o uso de algumas peças de uniformes (como a bermuda
atualmente utilizada), além de representar a identidade visual da
instituição, têm a função de desempenhar o papel de Equipamento de
Proteção Individual (EPI). No serviço de guarda-vidas isso não é
diferente. Expostos à radiação solar ultravioleta por prolongados
períodos, o profissional guarda-vidas necessita ter a maior parte
possível de seu corpo protegida, visando a prevenção de lesões causadas
por radiação ultravioleta, que possa evoluir para o câncer de pele,
entre outras doenças ocupacionais.
Nesse sentido, camisetas de manga longa, bonés, chapéus, óculos
escuros polarizados e bermudas, além do filtro de proteção solar são
ferramentas indispensáveis para a manutenção da saúde ocupacional desse
profissional. Na maioria dos serviços de guarda-vidas do mundo, o uso
desses itens de uniformes, que funcionam, ao mesmo tempo, como EPIs, são
obrigatórios e fornecidos pela instituição que tem a função social de,
também, zelar pela segurança de seu funcionário. Serviços de
guarda-vidas de países como a Austrália, Estados Unidos, Chile, Itália,
Portugal, entre muitos outros, e de estados brasileiros como Pernambuco,
São Paulo, Sergipe, Maranhão, entre outros, utilizam políticas rígidas
de proteção de seus funcionários contra os malefícios da radiação solar
ultravioleta com a adoção de uniformes que desempenhem essa função.
Obviamente, a adaptação ao uso de determinados EPIs, como em qualquer
profissão, nem sempre é rápida, no entanto, é necessária e fundamental. O
uso de sungas e conjuntos top/sunquini ainda é permitido, seja por
baixo dos uniformes considerados como EPIs ou em atividades de
treinamento e instruções, realizados, por regra, em horários de
exposição menos acentuada a raios solares ultravioletas.
Além disso, existe a questão de identidade visual de uma
instituição, a qual perpassa pela mensagem que essa instituição
transmite ao seu cliente, em nosso caso, a população de modo geral,
incluindo, nessa mensagem, a preocupação com a saúde, com a segurança e
com a sobriedade que a instituição deseja ter. Sendo assim, o uso de
uniformes do CBPMPR, após detida e minuciosa análise, é aprovado e
atualizado por Portarias do Comando Geral da Corporação. Dessa forma,
toda alteração é precedida de discussões, estudos e experiências de
pessoas ligadas à área e, nesse sentido, qualquer nova alteração somente
será realizada após minucioso estudo e conclusões que vão de encontro a
tudo que se tem de evidência até o presente momento, no que tange à
segurança e saúde ocupacional do profissional Bombeiro Militar
Guarda-Vidas.
Com relação especificamente às bermudas, é o mesmo equipamento
que vem sendo utilizado pelos bombeiros militares nos últimos anos e não
há indicativo claro de que este tipo de efeito relatado na denúncia
possa ser produzido. Por motivos óbvios há uma questão de
individualidade que deve ser acompanhada com atenção pela instituição,
para que se defina, inclusive, se há compatibilidade do profissional com
a atividade. No entanto, é possível observar uma predominância de
outros profissionais que trabalham em nossas praias, diariamente, de
bermudas, sem que isso, em tese, represente um fator limitador de sua
atuação”.
BANDA B..